A iniciação pela expressão corporal

Oportunidance Oportunidance Source: Wikipedia

O termo expression corporelle surge em França em 1968, num contexto de contestação estudantil generalizada, acontecimento histórico conhecido como o maio de 68.

Esta abordagem encontrava paralelo nos Estados Unidos, em algumas correntes filosóficas, psicológicas e educativas (fenomenologia, psicanálise, não-diretividade, orientalismo), populares nos anos sessenta. Apesar de localizada e datada veio a ter eco nas gerações seguintes. O modo como se olhava para o corpo jamais seria o mesmo.

A expressão corporal influenciou correntes teatrais, de que o Living Theatre é apenas um exemplo, criou novas abordagens terapêuticas, mas é sobretudo a sua corrente pedagógica, no âmbito da educação física que se desenvolve maioritariamente. O seu ponto de partida era claro, propondo uma alternativa ao tecnicismo desportivo dominante, considerando a técnica como sendo inibidora da expressão, sem respeito pelo desenvolvimento pessoal, pleno e integral. Daí que ao rendimento e à competição desportiva se propunha como alternativa o prazer e o ludismo, ao corpo abstrato e mecânico o corpo personalizado, à inibição e aos constrangimentos a libertação, e quando as questões do género começavam a ser sublinhadas, também era preciso contrapor o feminino à masculinidade dominante na atividade física.

A dança só indiretamente foi influenciada por esta corrente. Tal como no desporto, a técnica sempre subsistiu como um elemento primordial para a sua edificação, transmissão e conservação. A expressão corporal não atacava apenas o tecnicismo reinante no desporto mas também o tecnicismo reinante na dança. Pôr em causa a técnica foi sem dúvida uma lufada de ar fresco que veio equilibrar e ajudar a desenvolver a dança. Através da expressão corporal começa-se a dar mais atenção à dança como atividade alternativa ao desporto no contexto da educação física.

A principal vantagem desta abordagem é trazer para a luz do dia, um dos lados que tende a ser esquecido em prol da técnica. Técnica e expressão são dois lados de uma mesma moeda. O equilíbrio entre estes dois polos opostos é muito difícil, sendo mais frequente vermos os resultados dos extremos, ou seja, por um lado o tecnicismo, amorfo e inócuo, ou por outro lado o expressionismo, espalhafatoso ou exacerbado, mas igualmente inócuo. O difícil e mais raro será encontrar um bailarino expressivo e com elevado nível técnico, um equilíbrio da moeda no seu, ainda que estreito, terceiro lado. Naturalmente as crianças têm uma expressividade espontânea, um lado da moeda que dura até elas terem necessidade de aprender as técnicas (entre os 11-14 anos). Aí a moeda vira para o outro lado, a técnica passa a ser desejada e sinal de sucesso, relegando a expressão para um plano secundário, daí dizer-se que a técnica vai inibir a expressão. Este jogo de alternância pode durar anos e depende de inúmeros fatores e do conjunto de experiências a que os aprendizes são sujeitos. Contudo, se o processo ensino-aprendizagem correr bem, podemos esperar que a partir dos 18 anos tenhamos bailarinos que encontrem o equilíbrio entre a técnica e a expressão, ou seja, que se expressem através da técnica, de tal modo controlada que parece invisível, porque é apenas um meio eficaz e não um fim em si mesmo.

As desvantagens desta abordagem na fase de iniciação à dança estão, desde logo, na dificuldade de elaborar os conteúdos. Se não se ensinam as técnicas, ensina-se o quê? A expressão ensina-se? Diretamente? Pode-se ensinar alguém a ser expressivo? Depois o clima de não-diretividade, que no fundo apaga o papel do professor (quanto muito colocado no papel de DJ que coloca as músicas e espera que os alunos se libertem, se expressem) também não ajuda muito a transformar esta abordagem numa alternativa superior à abordagem pelas técnicas, em que os problemas dos conteúdos programáticos estão claramente resolvidos. 

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