Dimensões da Dança ou a sua Polivalência

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Uma das características da dança é a sua polivalência. A maior parte das definições de dança começa assim:

a dança é uma arte... Pode ser... mas é excessivo considerar que toda a dança é arte. Esta é apenas uma das suas manifestações porque existem outras. A dança pode ser um mero divertimento mas também pode ser sinónimo de muito trabalho, com horários de seis ou mais horas por dia, cinco a seis dias por semana, quarenta e muitas semanas por ano.

Sob o perigo de tomarmos a floresta pela árvore que temos diante dos olhos, será mais acertado olhar para este fenómeno como quem olha para uma pedra como um todo e consegue ver não uma, mas todas as facetas que ela apresenta.

Olhando para a dança com algum distanciamento, conseguimos ver pelo menos quatro grandes dimensões, quatro facetas que às vezes se tocam, outras vezes se sobrepõem como numa visão caleidoscópica, mas têm uma identidade própria que lhe é dada pela finalidade de cada uma, seus agentes próprios, suas respetivas instituições. São elas a arte, a educação, a terapia e o lazer/animação.

Antes de se cruzarem como por exemplo na chamada educação artística, elas existem autonomamente, em mundos paralelos que parecem tão distantes que nem parece que estamos a falar da mesma atividade. Quando vemos alguém a dançar numa festa (casamentos e batizados, por exemplo) dificilmente podemos classificar aquela dança como arte. E não é um problema de contexto, é um problema da própria qualidade da dança. Não é por haver cadeiras que são obras de arte que todas as outras cadeiras passam a ser objetos artísticos. Quer a dança quer a carpintaria possuem uma dimensão artística mas não se esgotam aí, felizmente diremos nós. Esta polivalência, ou seja a possibilidade de na mesma atividade estarmos com objetivos diferenciados talvez seja uma característica da maior parte das atividades humanas, sendo que em quase todas elas conseguimos observar, mais ou menos desenvolvidas as quatro dimensões referidas. É assim com a dança, com a música, com o desporto e com muitas atividades, mas voltemos à carpintaria como exemplo, antes de desenvolvermos este conceito no contexto da dança.

O trabalho manual com madeira pode produzir objetos de grande valor artístico, esculturas que admiramos quando são expostas em museus e outros espaços públicos (dimensão artística). A mesma atividade pode estar incluída num programa escolar sob os nomes mais diversos como Trabalhos Manuais, Educação Visual e Tecnológica,  Expressão Plástica, mas com objetivos pedagógicos, professor, programa, avaliação (dimensão educativa). Todos conhecemos, pelo menos dos filmes, pessoas que ocupam os seus tempos livres, numa garagem com um torno e um bocado de madeira ou um pequeno ramo de uma árvore e um canivete (dimensão lúdica). E a mesma atividade de trabalhar a madeira pode ser com certeza usada com fins terapêuticos (dimensão terapêutica). O que muda? Para além da qualidade dos produtos finais, mudam os objetivos, o perfil dos agentes (desde o autodidata ao mestre, passando pelo professor, o terapeuta, ou o animador) e o enquadramento, nomeadamente as instituições em que estas diferentes dimensões de uma mesma atividade se realizam. Vejamos então com mais pormenor como essas dimensões coexistem na dança.