A iniciação à dança

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Por onde começar? Sabemos que o primeiro contacto pode ser determinante para a relação futura que mantemos com uma atividade.

Uma boa ou uma má experiência pode contribuir para a decisão de continuarmos ou não a vivenciar uma modalidade desportiva, um género cinematográfico, um estilo literário ou uma forma de dança.

Se queremos levar alguém ao teatro ou à ópera, pela primeira vez, devemos ter alguma cautela sobre a peça a escolher para essa iniciação. Se a peça e a experiência forem boas existirá naturalmente o desejo de voltar, de repetir, de descobrir aquele mundo novo, e a partir daí estar atento às diferentes propostas que vão surgindo. Por outro lado, uma primeira má experiência pode deixar marcas irreversíveis, pelo perigo de se confundir a peça, a amostra, com todo o teatro ou toda a ópera.

No mundo cheio de livros, deverão existir alguns bons livros! Mesmo cingindo-nos ao universo da boa literatura, talvez haja umas quantas obras que devemos ler primeiro do que outras... Por qual começar? Para isso é que existem professores a quem agradecemos a sua orientação, as suas dicas para termos acesso ao que de melhor existe num determinado ramo da cultura. Será assim do ponto de vista do leitor ou do espetador, mas por maioria de razão com as práticas que escolhemos para nós ou para os nossos filhos. Quando ouvimos alguém dizer que não gosta de ler, para além de nos surpreendermos, só podemos imaginar o quão traumáticas devem ter sido as primeiras experiências e registar a magnitude da perda, ou seja, a quantidade de coisas boas, o prazer que essa pessoa desperdiçou por se recusar a ler. Um direito com tanto de legítimo como de estúpido!

Passemos à prática. Existindo múltiplas formas de dança, por qual começar? Existe alguma que seja melhor que todas as outras? As mesmas perguntas podem ser feitas se o tema for a iniciação desportiva ou musical. Devo começar pela natação, pela ginástica, pelos desportos coletivos ou pelos de combate (luta, judo, karaté, defesa pessoal)? Devo começar pela música clássica? Jazz? Tradicional? Pop? Rock? Pimba?

Muitas vezes a escolha estará muito dependente da oferta disponível, da modalidade que o clube de bairro tem para oferecer, da proximidade da casa ou do local de trabalho dos locais de prática, da acessibilidade em termos de custos e dos gostos dos encarregados de educação. Para evitar essa disparidade é que a escola pública existe, permitindo uma democratização do ensino, o acesso generalizado às práticas culturais de relevante importância para a saúde, para a educação, para a plenitude da formação das crianças e dos jovens.

Mas mesmo na escola, na aprendizagem formal da música, da dança, do desporto, das artes plásticas, a pergunta mantém-se: Por onde começar?

Existem caminhos diferenciados, diferentes abordagens, sobre as quais é necessário fazer um balanço, enumerar as vantagens e os inconvenientes, sinalizar as boas práticas e difundi-las. Ao mesmo tempo, estar atento aos perigos de uma especialização precoce, a ideia absurda de que se tem de começar tudo muito cedo, baseada num olhar para as crianças como sendo adultos em ponto pequeno, aos quais se veste um figurino de adulto e se calçam uns sapatos que não são para os seus pés.

Duas coisas sabemos no entanto: primeiro, na iniciação à dança nem todos os caminhos são igualmente bons, ou seja, existem abordagens mais adequadas do que outras, com mais vantagens. Segundo: a idade não é a questão central, pois podemos iniciarmo-nos na prática da dança em qualquer idade e usufruir do muito que esta atividade nos pode oferecer para o nosso desenvolvimento pessoal. Mas tal como para os livros, precisamos de uma orientação adequada, step by step, para que a experiência seja positiva e enriquecedora.